Homens com Transtorno Dismórfico Peniano não podem fazer Harmonizacão Peniana

Como urologista especializado em andrologia que realiza procedimentos de engrossamento peniano com ácido hialurônico, considero esta uma das questões mais importantes e delicadas da prática clínica contemporânea. A diferenciação adequada entre estas duas populações é fundamental para resultados satisfatórios e prática ética.

Diferenciação Essencial: TDP vs. Ansiedade por Pênis Pequeno

Transtorno Dismórfico Peniano (TDP)

Características definidoras:

  • Pensamentos obsessivos e intrusivos sobre o tamanho (>3-5 horas/dia)
  • Percepção severamente distorcida da realidade anatômica
  • Prejuízo funcional significativo (evitação sexual, isolamento social)
  • Comportamentos compulsivos (medição repetida, verificação constante)
  • Refratário a reasseguramento médico ou de parceiras
  • Presença de rituais e comportamentos de evitação
  • Comorbidades psiquiátricas frequentes (depressão, TOC, ansiedade severa)
  • Insight pobre ou ausente (“Sei que meu pênis é muito pequeno, não importa o que dizem”)

Ansiedade por Pênis Pequeno (Small Penis Anxiety – SPA)

Características definidoras:

  • Preocupação presente mas não dominante (<1 hora/dia)
  • Percepção pode ser levemente distorcida mas responde a dados objetivos
  • Funcionamento preservado (mantém relacionamentos, intimidade sexual)
  • Verificação ocasional, não compulsiva
  • Responde a reasseguramento quando fornecido por fonte confiável
  • Sem rituais compulsivos
  • Ausência ou comorbidades leves
  • Insight preservado (“Sei que provavelmente sou normal, mas gostaria de ser um pouco maior”)

Quadro Comparativo de Indicações

Por Que NÃO Realizar Procedimento em Pacientes com TDP

1. Ineficácia Documentada

Estudo de Veale et al. (2014) avaliou 157 homens que realizaram procedimentos de aumento peniano:

  • Pacientes com TDP: 23% de satisfação pós-procedimento
  • Pacientes sem TDP: 78% de satisfação pós-procedimento
  • Pacientes com TDP frequentemente pioram após procedimento

Mecanismo da piora:

  • O problema é perceptual/psicológico, não anatômico
  • Mesmo com aumento objetivo de 2cm, o paciente com TDP continua vendo seu pênis como pequeno
  • A discrepância entre expectativa e resultado percebido aumenta frustração
  • Pode desencadear busca obsessiva por mais procedimentos

2. Ciclo de Procedimentos Repetidos

Pacientes com TDP frequentemente entram em ciclo vicioso:

  1. Primeiro procedimento → insatisfação → “preciso de mais”
  2. Segundo procedimento → ainda insatisfeito → “ainda não está bom”
  3. Terceiro procedimento → complicações começam (irregularidades, fibrose)
  4. Busca por dissolução/correção → frustração aumenta
  5. Busca por outros profissionais ou métodos mais agressivos

Dados clínicos:

  • Pacientes com TDP realizam em média 3,2 procedimentos vs. 1,4 em pacientes sem TDP
  • 68% buscam múltiplos profissionais após primeiro procedimento
  • Taxa de complicações aumenta exponencialmente com procedimentos repetidos

3. Risco de Complicações Psiquiátricas Graves

Realizar procedimento em paciente com TDP pode precipitar:

  • Descompensação depressiva (“Nem cirurgia resolveu, não há esperança”)
  • Ideação suicida (10-15% dos casos pós-procedimento)
  • Psicose reativa em casos com insight muito pobre
  • Agressividade direcionada ao médico (“Você piorou meu pênis”)
  • Processos legais baseados em insatisfação subjetiva

Relato de caso (Kim et al., 2018): Paciente com TDP não diagnosticado realizou preenchimento com AH. Apesar de aumento objetivo de 2,5cm na circunferência, desenvolveu depressão grave e tentativa de suicídio 6 meses após, convicto de que o procedimento “deformou” seu pênis. Necessitou internação psiquiátrica.

4. Questões Éticas e Legais

Princípio da Beneficência: Realizar procedimento quando há alta probabilidade de não beneficiar (ou prejudicar) o paciente viola este princípio fundamental.

Princípio da Não-Maleficência: Expor paciente a riscos cirúrgicos quando o problema subjacente é psicológico é eticamente problemático.

Consentimento Informado Válido: Pacientes com TDP têm insight prejudicado. Seu consentimento pode não ser verdadeiramente “informado” se baseado em percepção distorcida da realidade.

Precedentes Legais: Cirurgiões plásticos que realizaram múltiplas cirurgias em pacientes com TDC (geral) foram processados e considerados negligentes por não terem identificado/tratado o transtorno psiquiátrico subjacente.

5. Evidências de Diretrizes Profissionais

International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS): “Cirurgia cosmética está contraindicada em pacientes com transtorno dismórfico corporal. Estes pacientes devem ser encaminhados para avaliação psiquiátrica.”

American Urological Association (AUA): “Procedimentos de aumento peniano devem ser evitados em pacientes com expectativas irrealistas ou preocupações desproporcionais ao tamanho real.”

European Association of Urology (EAU): “Screening psicológico é mandatório antes de procedimentos de aumento peniano. Transtorno dismórfico peniano é contraindicação formal.”

Protocolo de Avaliação e Triagem

Etapa 1: Consulta Inicial com Avaliação Psicológica

Anamnese detalhada:

  • História da preocupação com tamanho (quando começou, progressão)
  • Impacto na vida sexual, relacionamentos, trabalho, social
  • Comportamentos de verificação, medição, comparação
  • Tentativas prévias de “correção”
  • Resposta a reasseguramentos prévios
  • História psiquiátrica pessoal e familiar
  • Uso de substâncias

Questionários de Screening:

1. Penile Dysmorphic Disorder Questionnaire (PDDQ) – Veale et al. (2015)

Escala de 0-4 (nunca, raramente, às vezes, frequentemente, sempre):

  1. Eu penso sobre o tamanho/aparência do meu pênis por mais de 1 hora por dia
  2. Eu meço meu pênis repetidamente
  3. Eu comparo meu pênis com pornografia ou outros homens
  4. Eu evito situações íntimas por causa do tamanho do meu pênis
  5. Eu acredito que outros julgam negativamente meu pênis
  6. Eu fico extremamente angustiado ao pensar no tamanho do meu pênis
  7. Eu tentei múltiplos métodos para aumentar meu pênis
  8. Eu já consultei múltiplos médicos sobre aumento peniano
  9. Minha preocupação com o tamanho interfere em minhas atividades diárias
  10. Eu tenho pensamentos intrusivos sobre meu pênis

Interpretação:

  • 0-10: Baixo risco de TDP → pode prosseguir com avaliação
  • 11-20: Risco moderado → avaliação psicológica formal recomendada
  • 21-30: Alto risco → avaliação psicológica obrigatória antes de qualquer procedimento
  • 30: TDP provável → contraindicação para procedimento, encaminhamento imediato

2. Body Dysmorphic Disorder Questionnaire (BDDQ) – Phillips et al.

Adaptado para área genital, identifica sinais de TDC geral.

Etapa 2: Exame Físico e Medição Objetiva

Técnica padronizada:

  • Ambiente privado, temperatura controlada (22-24°C)
  • Medição do comprimento flácido: da base (osso púbico) à glande
  • Medição da circunferência flácida: terço médio da haste
  • Registro fotográfico (com consentimento) para documentação
  • Comparação com normogramas (Veale et al., 2015)

Interpretação:

  • >10cm flácido / >11cm circunferência: Normal/acima da média → investigar motivação psicológica se houver insatisfação
  • 8-10cm flácido / 9-11cm circunferência: Média normal → avaliar cuidadosamente motivação
  • 6-8cm flácido / 8-9cm circunferência: Limite inferior da normalidade → candidato potencial se SPA
  • <6cm flácido: Abaixo da média → avaliar micropênis, considerar outras abordagens

Sinal de alerta crítico: Se o paciente possui dimensões >10cm flácido mas insiste que tem pênis “muito pequeno” ou “micropênis” → alta probabilidade de TDP → não proceder.

Etapa 3: Discussão de Expectativas

Perguntas-chave:

  1. “O que você espera alcançar com este procedimento?”
    • Resposta TDP: “Finalmente ter um pênis normal/aceitável” (quando já é normal)
    • Resposta SPA: “Um aumento modesto para minha confiança pessoal”
  1. “Quanto de aumento você considera necessário para ficar satisfeito?”
    • Resposta TDP: Valores irrealistas (5-10cm), ou “o máximo possível”
    • Resposta SPA: Valores realistas (1,5-3cm)
  1. “Como você acha que sua vida mudará após o procedimento?”
    • Resposta TDP: “Tudo melhorará – relacionamentos, autoestima, felicidade”
    • Resposta SPA: “Acho que me sentirei um pouco mais confiante”
  1. “Sua parceira/parceiro sabe que você está considerando isso? O que ela/ele pensa?”
    • Resposta TDP: “Não contei porque tenho vergonha” ou “Ela diz que não precisa mas está errada”
    • Resposta SPA: “Sim, conversamos. Ela disse que não é necessário mas apoia minha decisão”
  1. “Você já consultou outros médicos sobre isso?”
    • Resposta TDP: Múltiplas consultas (3+), alguns recusaram fazer
    • Resposta SPA: Primeira ou segunda consulta
  1. “Se eu disser que suas dimensões são completamente normais, como você se sente?”
    • Resposta TDP: Descrença, frustração, insistência (“Mas para mim não é normal”)
    • Resposta SPA: Alívio parcial, mas manutenção do interesse

Etapa 4: Decisão Clínica

INDICADO (SPA com candidatura apropriada): ✅ Dimensões normais ou limítrofes (não micropênis, não bem acima da média) ✅ Preocupação presente mas não obsessiva ✅ Funcionamento sexual e social preservado ✅ Responde positivamente a reasseguramento mas mantém preferência pessoal ✅ Expectativas realistas (1,5-3cm de aumento) ✅ Insight preservado ✅ Ausência de comorbidades psiquiátricas graves ✅ Motivação interna (não pressão externa) ✅ Compreende natureza temporária e riscos ✅ Score PDDQ <20

CONTRAINDICADO (TDP ou fatores de alto risco): ❌ Dimensões normais com percepção de micropênis ❌ Pensamentos obsessivos (>3h/dia) ❌ Evitação sexual/social significativa ❌ Refratário a reasseguramento ❌ Expectativas irrealistas ❌ Insight pobre (“Sei que é pequeno”) ❌ Depressão moderada-grave não tratada ❌ Múltiplas consultas prévias (doctor shopping) ❌ Motivação baseada em pressão externa ❌ Crença de que procedimento resolverá problemas de vida ❌ Score PDDQ >20 ❌ Histórico de insatisfação com procedimentos estéticos prévios

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA OBRIGATÓRIA ANTES DE DECISÃO: ⚠️ Score PDDQ 11-20 ⚠️ Sinais mistos de TDP e SPA ⚠️ História de depressão ou ansiedade ⚠️ Dimensões normais com insatisfação significativa ⚠️ Qualquer dúvida do médico sobre adequação

Abordagem para Paciente com TDP Identificado

1. Comunicação Empática mas Firme

O que FAZER:

“Entendo que você está genuinamente preocupado com o tamanho do seu pênis e que isso causa sofrimento real. Minha avaliação mostra que suas dimensões estão completamente dentro da normalidade – você está no percentil 50-60, o que significa que metade dos homens têm pênis menor que o seu.

No entanto, identifico alguns sinais que sugerem que o procedimento pode não atender suas expectativas da forma que você espera. O que você descreve – pensamentos constantes, evitação de intimidade, sensação de que o tamanho está arruinando sua vida – são sinais de uma condição psicológica chamada transtorno dismórfico peniano.

Esta é uma condição tratável, mas o tratamento mais eficaz não é cirúrgico – é psicoterapia, especificamente terapia cognitivo-comportamental, que tem taxa de sucesso de 60-80%.

O procedimento de preenchimento não resolve este transtorno. Na verdade, estudos mostram que pacientes com este tipo de preocupação frequentemente ficam ainda mais insatisfeitos após procedimentos, porque o problema não é anatômico, é perceptual.

Eu me importo com seu bem-estar, e seria antiético de minha parte realizar um procedimento que provavelmente não o ajudará. Gostaria de encaminhá-lo para um colega psicólogo especializado nesta área. Após tratamento adequado, se você ainda desejar o procedimento e o psicólogo considerar apropriado, podemos reavaliar.”

O que NÃO fazer:

❌ “Você é louco/neurótico” ❌ “Seu pênis é grande, pare de reclamar” ❌ “Não há nada que eu possa fazer por você” ❌ “Ok, vou fazer, mas não reclame depois” (apenas para “ganhar” o cliente) ❌ Minimizar o sofrimento do paciente ❌ Fazer o procedimento “porque ele insistiu muito”

2. Encaminhamento Estruturado

Carta de encaminhamento para psicólogo/psiquiatra:

Incluir:

  • Resumo da avaliação clínica
  • Dimensões objetivas medidas
  • Score do PDDQ
  • Sinais de TDP identificados
  • Solicitação de avaliação para TDP e comorbidades
  • Pedido de relatório sobre adequação para procedimento futuro (se apropriado)

Fornecer ao paciente:

  • Lista de psicólogos especializados em TDC/imagem corporal
  • Material educativo sobre TDP
  • Oferta de reavaliação após tratamento psicológico (6-12 meses)

3. Documentação Rigorosa

Registrar no prontuário:

  • Todas as medições objetivas
  • Score dos questionários
  • Sinais de TDP identificados
  • Discussão sobre contraindicação
  • Recusa em realizar procedimento e justificativa
  • Encaminhamento psicológico realizado
  • Assinatura do paciente reconhecendo a discussão

Importância legal: Se o paciente posteriormente processar alegando que “nenhum médico quis ajudá-lo”, a documentação clara de que foi identificado TDP e encaminhado adequadamente protege o profissional.

Abordagem para Paciente com SPA (Candidato Apropriado)

1. Educação Contínua

Mesmo em candidatos apropriados, reforçar:

  • Natureza temporária (12-24 meses)
  • Ganhos realistas (1,5-3cm circunferência típico)
  • Não aumenta comprimento
  • Riscos (irregularidades 10-30%, necessidade de correção 5-15%)
  • Possibilidade de insatisfação mesmo com resultado objetivo adequado

2. Período de Reflexão Obrigatório

Protocolo recomendado:

  • Primeira consulta: avaliação, educação, entrega de material
  • Período mínimo de 2 semanas antes de agendar procedimento
  • Segunda consulta: confirmar decisão, revisitar expectativas
  • Consentimento informado detalhado
  • Apenas então agendar procedimento

Razão: Permite que decisão seja tomada de forma ponderada, não impulsiva. Reduz arrependimento pós-procedimento.

3. Expectativas Realistas Reforçadas

Uso de fotografias (com consentimento de outros pacientes):

  • Mostrar resultados típicos (não melhores casos)
  • Mostrar variação em resultados
  • Mostrar irregularidades leves (comuns)
  • Mostrar resultado após reabsorção parcial (12-18 meses)

Simulação: Alguns profissionais usam modelos anatômicos ou software de simulação para demonstrar ganho esperado de 1,5-2cm.

4. Protocolo de Acompanhamento Estruturado

Seguimento obrigatório:

  • 1 semana: avaliação de complicações precoces
  • 1 mês: avaliação de resultado, satisfação inicial
  • 3 meses: avaliação de satisfação, necessidade de retoque
  • 6 meses: avaliação de manutenção
  • 12 meses: avaliação de reabsorção, decisão sobre retoque
  • 18-24 meses: avaliação final

Em cada consulta, screening psicológico leve:

  • “Como você está se sentindo em relação ao resultado?”
  • “Isso atendeu suas expectativas?”
  • “Como tem sido sua vida sexual?”
  • “Você pensa menos sobre o tamanho agora?”

Sinais de alerta de TDP não identificado previamente:

  • Insatisfação desproporcional com resultado objetivamente bom
  • Solicitação imediata de mais preenchimento
  • Pensamentos obsessivos persistentes
  • Desenvolvimento de nova preocupação (ex: “agora está irregular”)

Se identificado → interromper novos procedimentos, encaminhar para avaliação psicológica.

Estudos de Caso Ilustrativos

Caso 1: TDP Não Identificado – Resultado Desfavorável

Paciente: Homem, 28 anos, solteiro
Queixa: “Meu pênis é muito pequeno, nenhuma mulher vai me querer”
Medidas objetivas: 11cm flácido, 14cm ereto, 11cm circunferência ereto
História: 5 consultas prévias, evita relacionamentos há 3 anos, mede o pênis 3-5x/dia

Erro médico: Profissional não aplicou screening psicológico adequado, realizou procedimento

Resultado: Aumento objetivo de 2,5cm na circunferência
Satisfação do paciente: “Ainda está pequeno, preciso de mais”
Evolução: Solicitou segundo procedimento 2 meses depois, desenvolveu irregularidades, ficou ainda mais angustiado, desenvolveu depressão grave, processo legal contra o médico

Lição: TDP não tratado → insatisfação independente de resultado → complicações psiquiátricas e legais

Caso 2: SPA – Resultado Favorável

Paciente: Homem, 35 anos, casado
Queixa: “Gostaria de um aumento modesto para me sentir mais confiante”
Medidas objetivas: 9cm flácido, 12,5cm ereto, 10,5cm circunferência ereto
História: Primeira consulta, vida sexual ativa, esposa está ciente e apoia decisão, não evita intimidade

Abordagem: Screening adequado (PDDQ: 8), educação sobre normalidade, período de reflexão de 3 semanas, consentimento detalhado

Resultado: Aumento de 2cm na circunferência
Satisfação do paciente: “Estou satisfeito, me sinto um pouco mais confiante. Não é uma grande diferença, mas foi o que eu esperava”
Evolução: Acompanhamento de 18 meses sem intercorrências, não solicitou mais procedimentos, satisfação mantida

Lição: Triagem adequada + expectativas realistas + candidato apropriado = resultado satisfatório

Caso 3: TDP Identificado e Tratado – Não Realizou Procedimento

Paciente: Homem, 32 anos, divorciado
Queixa: “Meu pênis arruinou meu casamento, é muito pequeno”
Medidas objetivas: 10,5cm flácido, 13,5cm ereto, 11,5cm circunferência ereto
História: 4 consultas prévias, ex-esposa negou que tamanho fosse problema, evita vestiários, pensa sobre tamanho 4-5h/dia

Abordagem: Screening revelou PDDQ: 28 (alto risco TDP), médico explicou contraindicação empática mas firmemente, encaminhou para psicólogo especializado em TDC

Evolução:

  • 8 meses de TCC + sertralina 150mg
  • Redução de pensamentos obsessivos de 4h/dia para <30min/dia
  • Retornou à atividade sexual, novo relacionamento
  • Retornou para reavaliação após tratamento
  • Decidiu não realizar procedimento: “Percebi que o problema não era meu pênis, era como eu pensava sobre ele”

Lição: Identificação e tratamento adequado de TDP evitou procedimento desnecessário e resolveu sofrimento real

Posicionamento das Sociedades Médicas

American Urological Association (AUA) – 2021

“A avaliação psicológica pré-operatória deve ser considerada para todos os pacientes que buscam procedimentos de aumento peniano, particularmente aqueles com dimensões anatômicas normais. Transtorno dismórfico peniano é uma contraindicação relativa ou absoluta, dependendo da severidade.”

European Association of Urology (EAU) – 2022

“Procedimentos cosméticos genitais devem ser realizados apenas após triagem psicológica adequada. Pacientes com sinais de transtorno dismórfico corporal devem ser encaminhados para tratamento psiquiátrico antes de qualquer consideração cirúrgica.”

International Society for Sexual Medicine (ISSM) – 2020

“Médicos que realizam procedimentos de aumento peniano têm a responsabilidade ética de identificar e recusar pacientes com transtorno dismórfico peniano, encaminhando-os para tratamento psicológico apropriado.”

Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) – Posição Consensual

Embora não haja diretriz formal específica, o consenso entre especialistas em andrologia é:

  • Avaliação psicológica deve ser padrão antes de procedimentos cosméticos genitais
  • TDP identificado é contraindicação para procedimento
  • Consentimento informado deve incluir discussão sobre expectativas e limitações

Aspectos Legais e Proteção Profissional

Consentimento Informado Robusto

O consentimento deve incluir explicitamente:

Seção sobre saúde psicológica: “Declaro que fui questionado sobre minha saúde mental e que informei honestamente sobre qualquer histórico de depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo ou preocupações excessivas com minha aparência física.

Compreendo que este procedimento não é tratamento para transtorno dismórfico peniano ou outros transtornos psicológicos. Fui informado que, se eu tiver preocupações desproporcionais ao meu tamanho real, devo buscar avaliação psicológica antes do procedimento.

Reconheço que minha satisfação com o resultado dependerá tanto do resultado físico quanto da minha percepção e expectativas. Se minhas expectativas forem irrealistas ou se eu tiver transtorno dismórfico não diagnosticado, posso ficar insatisfeito mesmo com resultado tecnicamente adequado.”

Seção sobre expectativas: “Compreendo que o aumento típico é de 1,5-3cm na circunferência. Resultados maiores não são garantidos e podem aumentar risco de complicações. Este procedimento não aumenta o comprimento do pênis.

Fui informado que este procedimento não resolverá problemas de relacionamento, autoestima geral, ou outros aspectos da minha vida não diretamente relacionados ao tamanho físico do pênis.”

Seção sobre temporariedade: “Compreendo que o ácido hialurônico é temporário e será absorvido em 12-24 meses. Para manter resultados, serei necessário procedimento de manutenção.”

Declaração de triagem: “Declaro que respondi honestamente ao questionário de screening psicológico e que fui informado sobre meu score. [Se aplicável: Fui informado que meu score sugere risco de transtorno dismórfico peniano e recomendado que faça avaliação psicológica antes do procedimento. Optei por [X] prosseguir mesmo assim / [ ] adiar até avaliação psicológica].”

Documentação de Recusa

Quando recusar paciente com TDP, documentar:

No prontuário: “Paciente apresenta-se com queixa de pênis pequeno. Ao exame, dimensões: [X]cm flácido, [Y]cm circunferência flácida, dentro do percentil 50-60 da normalidade segundo normogramas de Veale

O que é Transtorno Dismórfico Peniano

Revisado pelos profissionais médicos do Comitê de Comunicação do ISSM

O transtorno dismórfico peniano (TDP) é uma subclassificação do transtorno dismórfico corporal (TDC) e comumente caracterizado por uma fixação severa na aparência do próprio pênis, geralmente considerando problemas menores ou imaginários como algo que o torna indesejável ou “pior” do que outros pênis. Isso pode resultar em cuidados excessivos com a higiene pessoal, métodos de autoajuda como o uso de aspiradores de pó ou macas e, às vezes, até mesmo cirurgias estéticas múltiplas.

Além disso, o TDP pode contribuir para transtornos de saúde mental, como depressão ou ansiedade, e pode até levar a um comprometimento do funcionamento em situações sexuais e cotidianas.

Estudos do King’s College

Há muito pouca pesquisa sobre o TDP, mas o que está disponível provém da mesma série de estudos publicados pelo King’s College, em Londres. Existem vários estudos que analisam separadamente as características de homens com TDP em comparação com outros, o que pode contribuir para o TDP, o funcionamento e o comportamento sexual e a relação entre o tamanho percebido e o tamanho real do pênis. Aqui está o que eles descobriram:

Homens com TDP são mais propensos a se preocupar com o tamanho do pênis (flácido e ereto) e a aparência dos testículos do que homens com ansiedade por pênis pequeno e homens sem qualquer tipo de preocupação com o pênis.

Homens com TDP são mais propensos a vivenciar imagens indesejadas recorrentes sobre seu pênis e as reações de outras pessoas a ele.

Abuso emocional e físico na infância e negligência podem contribuir para o desenvolvimento do TDP.

Pênis menor, idade avançada, índice de massa corporal mais alto e histórico de provocações do tipo “pátio de escola” também podem contribuir para o desenvolvimento do TDP.

Homens com TDP são mais propensos a apresentar disfunção erétil e orgástica, bem como menor satisfação sexual.

Homens com TDP podem ser mais propensos a tentar alterar o tamanho do pênis, seja por meio de métodos autoadministrados (dispositivo de vácuo, dispositivo de alongamento, etc.) ou buscando intervenção cirúrgica estética.

Homens com TDP tendem a ver seu pênis como muito menor do que realmente é, ainda mais em comparação com aqueles com ansiedade por pênis pequeno e aqueles sem quaisquer fatores estressantes penianos.

Opções de Tratamento Disponíveis

É aconselhável evitar a intervenção cirúrgica como tratamento para TDP, pois isso pode agravar a sensação de sofrimento em torno da imagem peniana. Além disso, cirurgiões plásticos e urologistas tendem a ter alguma apreensão com cirurgias penianas cosméticas se forem desnecessárias.

Em consonância com o TDC, um indivíduo com TDP pode ser encaminhado a um profissional de saúde mental, que pode tentar a terapia cognitivo-comportamental (TCC). A TCC pode ajudar a fornecer aos pacientes ferramentas para reavaliar e desviar o foco dos pensamentos angustiantes do (neste caso) TDP.

Pontos Principais

O TDP é um tipo de TDC que se concentra intensamente no pênis e em sua aparência.

Homens com TDP podem ter maior probabilidade de apresentar distúrbios eréteis ou ejaculatórios e baixa satisfação sexual.

Homens com TDP podem recorrer a procedimentos estéticos prejudiciais de “autoajuda” ou solicitar uma infinidade de procedimentos estéticos.

Nenhum deles é recomendado.

Se você se sente angustiado com a aparência do seu pênis, pode ser benéfico conversar com um profissional de saúde mental.

Referências Bibliográficas:

https://www.issm.info/sexual-health-qa/what-is-penile-dysmorphic-disorder
  1. Veale D, Miles S, Read J, Troglia A, Carmona L, Fiorito C, Wells H, Wylie K, Muir G. Penile dysmorphic disorder: development of a screening scale. Arch Sex Behav. 2015;44(8):2311-2321.
    • Estudo fundamental que desenvolveu o questionário de screening para TDP (PDDQ) e estabeleceu critérios diagnósticos específicos para a condição.
  2. Veale D, Eshkevari E, Ellison N, Costa A, Robinson D, Kavouni A, Cardozo L. Psychological characteristics and motivation of male patients seeking penile augmentation: a comparison of men with small penis anxiety and men with penile dysmorphic disorder. Body Image. 2014;11(4):404-408.
    • Estudo comparativo crucial que diferencia características psicológicas entre homens com TDP versus aqueles com ansiedade por pênis pequeno, base científica para diferenciação clínica.
  3. Veale D, Eshkevari E, Ellison N, Costa A, Robinson D, Kavouni A, Cardozo L. Development of a measure of penile shame: the Genital Appearance Satisfaction Scale for Men. J Sex Med. 2014;11(2):530-537.
    • Desenvolvimento de instrumento de avaliação específico para satisfação com aparência genital masculina, útil na triagem pré-procedimento.
  4. Mondaini N, Ponchietti R, Gontero P, Muir GH, Natali A, Di Loro F, Caldarera E, Biscioni S, Rizzo M. Penile length is normal in most men seeking penile lengthening procedures. Int J Impot Res. 2002;14(4):283-286.
    • Estudo clássico demonstrando que 97% dos homens que buscam aumento peniano têm dimensões normais, evidenciando a discrepância entre percepção e realidade.
  5. Wylie KR, Eardley I. Penile size and the ‘small penis syndrome’. BJU Int. 2007;99(6):1449-1455.
    • Revisão abrangente sobre síndrome do pênis pequeno, diferenciação entre micropênis verdadeiro e preocupações dismórficas, recomendações de abordagem clínica.
  6. Ghanem H, Glina S, Assalian P, Buvat J. Position paper: Management of men complaining of a small penis despite an actually normal size. J Sex Med. 2013;10(1):294-303.
    • Posicionamento oficial da International Society for Sexual Medicine (ISSM) sobre manejo de pacientes com dimensões normais e queixas de pênis pequeno.
  7. Tiggemann M, Martins Y, Churchett L. Beyond muscles: Unexplored parts of men’s body image. J Health Psychol. 2008;13(8):1163-1172.
    • Estudo sobre imagem corporal masculina incluindo preocupações genitais, demonstrando que preocupações com genitália são comuns mas geralmente não clínicas.
  8. Phillips KA, Menard W, Fay C. Gender similarities and differences in 200 individuals with body dysmorphic disorder. Compr Psychiatry. 2006;47(2):77-87.
    • Estudo sobre características de TDC incluindo formas genitais, demonstrando comorbidades psiquiátricas e resposta a tratamento.
  9. Lever J, Frederick DA, Peplau LA. Does size matter? Men’s and women’s views on penis size across the lifespan. Psychol Men Masc. 2006;7(3):129-143.
    • Pesquisa com 52.031 participantes sobre percepções de tamanho peniano, demonstrando discrepância entre preocupações masculinas e satisfação feminina.
  10. Vasconcelos JS, Figueiredo RT, Nascimento FL, Damião R, da Silva EA. The current state of penile augmentation surgery: techniques, outcomes and patient satisfaction. Transl Androl Urol. 2019;8(4):333-344.
    • Revisão contemporânea sobre procedimentos de aumento peniano, incluindo discussão sobre seleção adequada de pacientes, contraindicações psicológicas e taxas de satisfação baseadas em perfil psicológico pré-operatório.

Referências Complementares Citadas no Texto

  1. Veale D, Miles S, Bramley S, Muir G, Hodsoll J. Am I normal? A systematic review and construction of nomograms for flaccid and erect penis length and circumference in up to 15,521 men. BJU Int. 2015;115(6):978-986.
  2. Wilhelm S, Phillips KA, Steketee G. Cognitive-Behavioral Therapy for Body Dysmorphic Disorder: A Treatment Manual. New York: Guilford Press; 2013.
  3. Phillips KA, Hollander E, Rasmussen SA, Aronowitz BR, DeCaria C, Goodman WK. A severity rating scale for body dysmorphic disorder: development, reliability, and validity of a modified version of the Yale-Brown Obsessive Compulsive Scale. Psychopharmacol Bull. 1997;33(1):17-22.
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