A litíase urinária é uma afecção muito frequente em nosso meio. Muitas pessoas padecem de suas complicações, como infecções, quadros dolorosos e até perda de função renal.
Após os anos 1980, o advento da endourologia transformou radicalmente o tratamento cirúrgico de cálculos urinários. O surgimento da litotripsia extracorpórea e de procedimentos endoscópicos menos invasivos mudou o panorama, antes constituído apenas por litotomias, caracterizadas por incisões cirúrgicas, piores resultados estéticos e convalescenças mais prolongadas e dolorosas.
Incontestavelvente o tratamento da litíase urinária apresenta altas taxas de sucesso com esta técnica não invasiva.
A partir de 1982, a LECO (Litotripsia Extra COrpórea) ganhou espaço importante, “destronando” a técnica de cirurgia aberta para cálculos renais e ocupando um espaço importante da técnica endoscópica.
Em termos práticos, muito cálculos que antes só poderiam ser retirados por grandes incisões ou pela via natural (uretra – bexiga- ureter), a partir da LECO podem sem fragmentados num procedimento ambulatorial sem cortes em que o paciente não fica hospitalizado.
O tempo aproximado de uma sessão de Litotripsia é de aproximadamente 50 minutos. O paciente permanece deitado em uma maca específica e em contato com o equipamento. O médico urologista localiza o cálculo a ser fragmentado com aparelho de fluoroscopia (RX ao vivo) e aciona o equipamento, onde são disparados de 2000 a 4000 ondas de choque. Um médico anestesista também acompanha a litotripsia, realizando sedação anestésica para que o paciente não sinta dor durante o procedimento.
Médico anestesiologista monitorando o paciente durante o procedimento. |
Máquina de Litotripsia extra-corpórea. |
Bolha de silicone do aparelho que entra em contato com a pele do paciente; usualmente na região dorsal do lado em que se encontra o cálculo. |
Anteriormente à sessão de litotripsia o paciente deverá realizar uma avaliação clínica, com anamnese, exame físico, exames de sangue e exames de urina. O exame de urina é de suma importância e deverá ser realizado uma semana antes do procedimento para averiguarmos a presença, ou não, de bactérias na urina. O paciente deverá trazer o exame de raio-X (de abdômen simples) mais recente.
No dia da litotripsia o paciente deverá estar com 8 horas de jejum total, sem ter se alimentado com líquidos ou sólidos. Deverá tomar banho antes de ir ao hospital e chegar 30 minutos antes do horário marcado. Na sala da litotripsia o médico anestesista realizará uma punção venosa periférica para administraçao de medicamentos e agentes anestésicos. O mesmo médico se ocupará da monitorização e cuidados anestésicos do paciente.
O médico urologista assistente se ocupa do posicionamento do paciente na maca do aparelho, onde o cálculo será localizado através de fluoroscopia – espécie de RX instantâneo. Após a localização do cálculo, e o paciente estando devidamente anestesiado, o sistema de emissão de ondas de choque é acionado. São disparadas de 2000 a 4000 ondas de choque. Este número de disparos, assim como a potência de cada onda de choque, é controlado pelo médico urologista assistente.
Após a sessão de litotripsia, o paciente permanecerá na sala de recuperação por uma a três horas, sendo cuidado e monitorado pela equipe de enfermagem.
Em casa, o paciente deverá permanecer em repouso por dois a três dias. O retorno ao consultório acontecerá uma a duas semanas após a litotripsia. Nestes dias, o paciente poderá perceber eliminação de pequenos fragmentos de cálculos com a urina. Pequena quantidade de sangramento na urina também poderá ser percebida. Em caso de sangramento de maior porte, o paciente deverá entrar em contato com o médico assistente.
Em Porto Alegre O Hospital Mãe de Deus possui um aparelho SIEMENS modelo MODULARIS.
Paciente sendo monitorado durante fragmentação de cálculo por ondas de choque no Hospital Mãe de Deus |
PRINCÍPIOS FÍSICOS
Durante a sessão, o cálculo é localizado no ponto ponto de mira com uso de ultrassonografia ou de fluoroscopia. O gerador das ondas de choque pode funcionar por meio de sistema eletro-hidráulico, eletromagnético ou piezoelétrico. Os dois primeiros são os mais utilizados atualmente. Essas ondas atravessam o meio líquido (bolha) e a gordura do paciente (componente líquido) e convergem para o cálculo localizado no ponto de mira. A pedra fragmenta-se por mecanismo de força na superfície do cálculo, que vence a coesão interna, por gradiente de pressão entre componente compressivo/ tensional e por cavitação. Se existir alguma interface gasosa, a onda de choque não progride e não atinge o ponto.
Observa-se, na sequência de fotos abaixo, um cálculo renal impactado na JUP (junção uretero-pélvica, ou saída do rim) que foi bombardeado com ondas de choque:
Início do procedimento… |
… após 2000 disparos de ondas de choque (cálculo já fragmentado) … |
… 4000 disparos – final do procedimento – cálculo completamente destruído. |
CONTRAINDICAÇÕES / COMPLICAÇÕES POSSÍVEIS
Nos casos de gestação, coagulopatias, hipertensão arterial não controlada, infecção urinária e obstrução decorrente do cálculo não se deve realizar LECO e outra modalidade terapêutica deve ser escolhida. Crianças necessitam de proteção gonadal e pulmonar quando possível. Trata-se de um procedimento bastante seguro, mas podem ocorrer algumas complicações, como: hematúria macroscópica persistente, rua de cálculos, prejuízo transitório da função renal, eventos sépticos, hematomas renais e lesões de órgãos adjacentes.
Fonte Bibliográfica:
Wein: Campbell-Walsh Urology, 9th ed.
Copyright © 2007 Saunders, An Imprint of Elsevier
Fotografias:
– Arquivo pessoal do Dr. Alessandro Rossol
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