Estudos recentes de alta qualidade evidenciam um declínio significativo na fertilidade masculina ao longo dos últimos 20 anos. Dados robustos mostram alterações em todos os parâmetros espermáticos, especialmente na concentração de espermatozoides, cuja redução tem sido progressiva e alarmante. Para se ter uma ideia, pesquisas indicam que a contagem média de espermatozoides caiu mais de 50% desde a década de 1970, passando de aproximadamente 100 milhões/ml para menos de 50 milhões/ml em várias regiões do mundo.
Embora as causas desse fenômeno ainda não estejam completamente esclarecidas, algumas hipóteses já foram estabelecidas e estão incluídas nas recomendações terapêuticas de entidades científicas ao redor do mundo. Entre os fatores de destaque, a inadequação do estilo de vida é frequentemente apontada como um dos principais. Isso inclui obesidade, sedentarismo, tabagismo, consumo excessivo de álcool e drogas recreativas (como maconha, cocaína e fentanil), estresse crônico, sono insuficiente (menos de sete horas por noite), além do uso abusivo de testosterona e outros esteróides. Vale ressaltar que o uso de anabolizantes, muito comum entre jovens, pode levar à infertilidade temporária ou até permanente, causando a atrofia dos testículos e a interrupção da produção natural de espermatozoides.
Outros estudos sugerem uma associação entre o comprometimento da fertilidade masculina e a exposição a toxinas ambientais, como pesticidas, herbicidas, bisfenol A, ftalatos, bifenilos policlorados, organofosfatos e carbamatos. Essas substâncias, conhecidas como disruptores endócrinos, podem interferir no sistema hormonal masculino, afetando não só a produção de espermatozóides, mas também seus níveis de testosterona e função sexual. Adicionalmente, condições crônicas de saúde, como apneia do sono, diabetes, hipertensão, hiperlipidemia, hiperuricemia e síndrome metabólica, quando tratadas inadequadamente, também podem desempenhar um papel significativo.
A exposição à radiação proveniente de dispositivos eletrônicos, como laptops e celulares mantidos próximos à região genital, assim como a inalação de nano plásticos dispersos no ar, também têm sido mencionadas como possíveis fatores agravantes. O calor excessivo na região testicular, seja por uso de notebooks no colo ou roupas muito apertadas, pode prejudicar a espermatogênese, já que os testículos precisam manter uma temperatura cerca de 2 graus abaixo da temperatura corporal para produzir espermatozoides de qualidade.
Como resultado, as taxas globais de fertilidade estão em queda drástica e se espera que nações altamente industrializadas enfrentem um declínio populacional acentuado nas próximas décadas, em parte devido ao fator masculino. É importante destacar que a infertilidade masculina não é apenas uma questão de quantidade de espermatozóides, mas também de sua qualidade, incluindo fatores como motilidade (capacidade de movimento), morfologia (forma) e integridade do DNA espermático.
No curto prazo, questões socioeconômicas, como a urbanização e o adiamento da paternidade, são determinantes para a redução da fertilidade. No longo prazo, acredita-se que a diminuição do tamanho das famílias se tornará uma realidade incontestável. Vale lembrar que a idade paterna avançada (acima dos 45 anos) também está associada a riscos aumentados de alterações genéticas nos espermatozoides e possíveis complicações na gravidez.
A adoção de tecnologias de reprodução assistida pode contribuir para resgatar a fertilidade masculina, assim como a criopreservação de espermatozoides pode auxiliar aqueles que desejam adiar a paternidade. Entretanto, é essencial encorajar os homens a adotarem hábitos saudáveis, contribuindo para mitigar o impacto dessa crise global na fertilidade masculina. Entre as medidas preventivas recomendadas estão:
– Manutenção de peso saudável através de dieta equilibrada rica em antioxidantes
– Prática regular de exercícios físicos moderados
– Redução da exposição a produtos químicos nocivos no ambiente e alimentação
– Gerenciamento do estresse através de técnicas de relaxamento
– Sono adequado e regular
– Evitar exposição excessiva da região genital ao calor
– Exames preventivos regulares, especialmente para homens com histórico familiar de infertilidade
– Consulta precoce com especialista ao planejar a paternidade, especialmente após os 35 anos
É fundamental ressaltar que a infertilidade masculina é um problema médico tratável na maioria dos casos, especialmente quando diagnosticada precocemente. Por isso, a conscientização sobre esse tema e a busca por atendimento especializado são cruciais para preservar e melhorar a saúde reprodutiva masculina.
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